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  1. Por Deus e pela minha família, eu voto sim

    quarta-feira, 20 de abril de 2016

    Uma dificuldade que tenho enfrentado (e que comentei vagamente na minha última publicação): até o momento tenho me manifestado contra o impeachment de Dilma. Dá trabalho explicar aos "cidadãos de bem que querem o país livre da corrupção" que isso não tem a ver com ser petista ou defender criminosos políticos. É trabalhoso, desgastante e ainda assim poucos conseguem entender.
    Enquanto Dilma não for ré em nenhum processo, não ficar comprovado por A + B seu envolvimento em algum esquema de corrupção ou que, de fato, cometeu algum delito que a impeça de governar como presidente, o impeachment continua sendo, a meu ver, um plano arquitetado por um grupo específico de políticos com objetivos muito bem traçados.
    Foram muitas as decepções no último domingo, dia 17. A quantidade de pessoas que afirmaram que agora o Brasil vai pra frente é estarrecedora. O mais curioso é saber que uma maioria esmagadora que se sentiu vitoriosa com a decisão da Câmara dos Deputados sequer tem algum interesse pela política. São pessoas que não buscam conhecimento do que se passa nas esferas governamentais, a não ser, claro, quando o assunto é a corrupção do PT. E não estou julgando, estou dizendo com propriedade tomando a minha rede social e aqueles que conheço bem como objeto de observação.
    O fato de ver o presidente da Câmara Eduardo Cunha conduzindo o processo de impeachment é vergonhoso demais frente à opinião pública e o posicionamento de muitos parlamentares favoráveis ao impeachment alegando a corrupção como chave-mestra da péssima situação do país. Não podemos nos esquecer de que muitos que estão no poder foram mencionados em delações, roubaram descaradamente e nunca negaram, vivem à base de troca de favores e ainda tiveram a pachorra de falar em corrupção. 
    Fato chocante da votação: Jair Bolsonaro, que ousou parabenizar Eduardo Cunha (ué, bandido bom não é bandido morto?) e dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, "o pavor de Dilma Rousseff", em suas próprias palavras. Sim, o coronel-mor da ditadura militar, responsável por várias torturas e brutalidades tanto físicas quanto psicológicas, inclusive de Dilma. Bolsonaro ainda votou "pela liberdade" (ditadura e liberdade combinam?) e "contra o comunismo" (já ficou claro que o PT fez a boa negociata com grandes empresários neoliberais faz tempo). Bolsonaro não está sozinho e a grande contradição é que hoje, que se vive numa democracia, mesmo que imatura, é possível lutar por uma ditadura, ao passo que a nossa história mostrou claramente o preço a ser pago por lutar pela democracia num regime ditatorial.
    A minha esperança é a de que tenhamos aprendido uma lição: quase todos os deputados favoráveis ao impeachment sequer mencionaram o motivo do mesmo: crime de responsabilidade fiscal. Mencionaram suas famílias e Deus (a Constituição é bem direta: o Estado deve ser laico, apesar de nunca ter sido). O "Brasil melhor"  que os ditos representantes do povo desejam exclui a grande massa de trabalhadores, pobres, com outras crenças religiosas e opções sexuais.
    Sendo assim, resolvi publicar no blog os memes e imagens do Facebook que mais chamaram minha atenção e que resumem bem o que a votação do impeachment representou. 

    Deputados fizeram uma grande análise política

    Minha bandeira só é verde e amarela para daltônicos

    Podemos voltar para o jogo contra a Alemanha?

    Meu neto querido, esta foi a única opção da minha geração contra o comunismo.

    Alguém entendeu?

    A bancada cristã muito estudiosa acerca de quem foi Jesus.

    O que muitos quiseram dizer, mas não tiveram coragem.

    E porque vocês são trouxas.

    Foi atendida prontamente.

    Saco de lixo: poxa, aí vocês estão me ofendendo, hein!

    Dormir é terapêutico.

    Ainda não inventaram o elixir do bom senso. Então...

    Recomendada para entender como os votos se sucederam


    O voto que me marcou
    Difícil escolher o mais marcante, mas as palavras de Chico Alencar, do PSOL, foram as que mais chamaram a minha atenção: 
    "Contra a hipocrisia que faz corruptos se tornarem arautos da moralidade pública. Contra o condutor ilegítimo dessa farsa que está ali, sentado à presidência da Câmara. Por uma reforma política radical, com participação popular, que tire o poder da grana do sistema degenerado. Pelos direitos da população, do povo que luta por terra, trabalho e dignidade. Contra esse processo de farsa. Não à demagogia e à escalada reacionária. O nosso voto é não."
    O voto de Chico Alencar pode ser conferido na íntegra aqui.

    Repercussão

    mídia internacional impeachment dilma domingo
    Fonte: Pragmatismo Político
    O impeachment de Dilma tem sido assunto nos jornais da Europa e dos Estados Unidos. 
    Eles apontam a falta de argumentos e o festival de agressões verbais ocorridos durante a votação. O El País chegou a publicar uma reportagem com o título "Deus derruba a presidente do Brasil" e o The Guardian falou em um congresso hostil e contaminado pela corrupção.
    Um artigo do The New York Times foi mais direto: "o motivo real do impeachment é que o sistema político do Brasil está em ruínas. O impeachment vai oferecer uma distração muito conveniente enquanto outros políticos tentam deixar suas casas em ordem. [...] Derrubar Dilma Roussef seria um ótimo capítulo final para a Operação Lava Jato: uma catarse de proporções épicas. E também concederia aos políticos de direita, a maior bancada no Congresso, um alívio do escrutínio público". O artigo ainda cita Eduardo Cunha e sua estratégia de concentrar as atenções no impeachment para ofuscar todas as denúncias legais que o envolvem.

    O que estão dizendo e o que realmente é
    Muitos pró-impeachment afirmam que agora o foco é Michel Temer e Eduardo Cunha, que possuem maioria na Câmara, muito embora Temer, como vice-presidente do Brasil, não possui nem a capacidade de unificar seu partido (o PMDB é ou não a escória da política brasileira?). Parece difícil perceber, mas aqueles que querem "todos na cadeia, seja PT, PSDB ou a PQP" - esta frase teve grande repercussão no Facebook - não estão pedindo impeachment; estão clamando por uma reforma política. O termo impeachment, no entanto, soa mais impactante, o início de um possível efeito dominó (que não vai acontecer, diga-se de passagem), ao passo que reforma política "é coisa de esquerda", como alguns já me disseram. 
    A decisão corre agora no Senado. Longe de ser o advento de uma nova era, o impeachment representa, acima de tudo, o poder de uma classe política desinteressada pelo povo. Afinal de contas, governam em nome de Deus e de seus familiares. E nada mais.



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